Insuficiência Cardíaca (IC)
09/03/2025Insuficiência Cardíaca
A Insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de bombear sangue de forma a atender às necessidades metabólicas dos tecidos, ou pode fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento. Tal síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais cardíacas e caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, que resultam da redução no débito cardíaco e/ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço.
Causas da Insuficiência Cardíaca
Ela pode ser causada por anormalidade na função sistólica, produzindo redução da força contrátil (IC sistólica), geralmente causada pela doença cardíaca isquêmica ou hipertensão arterial; ou por anormalidade na função diastólica, a qual leva a um defeito no coração em relaxar e encher o ventrículo adequadamente (IC diastólica), que pode ser consequência de hipertrofia ventricular esquerda maciça, fibrose miocárdica, deposição amiloide ou pericardite constrictiva.
Em muitos pacientes podem coexistir as disfunções sistólica e diastólica.
Assim, convencionou-se definir os pacientes com IC de acordo com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). Compreende-se os pacientes com FEVE normal (≥ 50%), denominada IC com fração de ejeção preservada (ICFEp).
Classificação da Insuficiência Cardíaca
De acordo com a fração de ejeção
- FEVE reduzida (< 40%) é denominada de IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr)
- FEVE intermediária (40-49%), IC de fração de ejeção intermediária (mid-range ou ICFEi)
De acordo com a gravidade dos sintomas (se baseia no grau de de tolerância ao exercício e varia desde a ausência de sintomas até a presença de sintomas mesmo em repouso)
- Classe I: Ausência de sintomas
- Classe II: Sintomas leves - Atividades físicas habituais causam sintomas. Limitação leve.
- Classe III: Sintomas moderados - Atividades físicas menos intensas que as habituais causam sintomas. Limitação importante, porém confortável no repouso
- Classe IV: Sintomas graves - Incapacidade para realizar qualquer atividade sem apresentar desconforto. Sintomas no repouso.
De acordo com a progressão da doença
- Estágio A: Risco de desenvolver IC. Sem doença estrutural ou sintomas de IC.
- Estágio B: Doença estrutural cardíaca presente. Sem sintomas de IC.
- Estágio C: Doença estrutural cardíaca presente. Sintomas prévios ou atuais de IC.
- Estágio D: IC refratária ao tratamento clínico. Requer intervenção especializada.
Características Clínicas
- Dispneia (falta de ar) ao esforço
- Tosse
- Fadiga/cansaço
- Dispneia em repouso (ortopneia) com a progressão da doença
- Dispneia paroxística noturna
- Aumento do tamanho do coração (cardiomegalia)
- Taquicardia
- Presença de terceira bulha cardíaca (B3)
- Estertores finos na base dos pulmões
- Regurgitação mitral e sopro sistólico, à medida que a dilatação ventricular progride
- Fibrilação atrial com a dilatação crônica do átrio esquerdo
- Edema pulmonar
- Edema periférico
- Noctúria e oligúria
Diagnóstico da Insuficiência Cardíaca
- Ecocardiografia na avaliação inicial de todos os pacientes com suspeita de IC para avaliar estrutura e função cardíaca, para planejar tratamento e para estratificação prognóstica;
- Eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações é recomendada na avaliação inicial de todos os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos
- Dosagem de petídeos natriuréticos (como o BNP e o NT-proBNP) quando há dúvida no diagnóstico da IC e para estratificação prognóstica na IC;
- Avaliação estrutural, FEVE e função diastólica
- Radiografia de tórax para avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar e identificar causas pulmonares de dispneia, como doença pulmonar intersticial, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), neoplasia pulmonar e pneumonia.
- Realização de hemograma, eletrólitos séricos, função renal, glicemia de jejum, hemoglobina glicosilada, perfil lipídico, função tireoidiana e função hepática.
- Avaliação da cinética de ferro (ferritina, ferro sérico e saturação da transferrina).
- Monitoração laboratorial seriada de função renal e eletrólitos ao longo do tratamento da IC.
- Teste de esforço cardiopulmonar, ou ergoespirometria, que permite a avaliação objetiva e quantitativa da capacidade funcional, pela medida do consumo de volume de oxigênio no pico do esforço (VO2 pico).
Tratamento da Insuficiência Cardíaca
Não farmacológico
- Programas de manejo de IC, para melhorar adesão, autocuidado e qualidade de vida, e reduzir hospitalizações, mortalidade e custos hospitalares;
- Reabilitação cardiovascular (exercício aeróbico regular), para ICFEr em classes funcionais II a III (NYHA), para melhorar qualidade de vida e capacidade funcional;
- Vacina contra influenza, para prevenção de fatores agravantes na IC;
- Vacina contra pneumococos. Para prevenção de fatores agravantes na IC;
- Reabilitação cardiovascular (exercício aeróbico regular) para ICFEp em classes funcionais II a III (NYHA), para melhorar capacidade funcional e função diastólica;
- Suplemento alimentar com ácidos graxos poli-insaturados n-3, para redução de mortalidade e internações cardiovascular;
- Evitar a ingesta excessiva de sal (> 7 g por dia);
- Exercícios físicos para pacientes com IC instável clinicamente, com miocardite aguda ou processos infecciosos agudos sistêmicos.
Farmacológico
- Os betabloqueadores, juntamente com IECA e mais recentemente sacubitril/valsartan, são fármacos que influenciam eixos fisiopatológicos potentes e podem reverter, parcialmente ou completamente, o remodelamento adverso do ventrículo esquerdo. Sendo assim, pode-se dizer que este conjunto de drogas são as mais poderosas ferramentas para melhorar desfechos em pacientes com insuficiência cardíaca - potencialmente com um fator universal entre eles - o efeito antiremodelamento;
- Devido ao risco de piora da função renal, hipercalemia e hipotensão arterial, os IECAs/BRAs devem ser introduzidos em doses baixas (especialmente nos pacientes com pressão arterial limítrofe) e titulação progressiva, até atingir as doses-alvo, que garantem os benefícios documentados nos grandes estudos clínicos multicêntricos;
- Digoxina para disfunção de VE sintomática;
- A associação do IECA ao BRA deve ser evitada nos pacientes já em uso de antagonista mineralocorticoide pelo risco aumentado de hiperpotassemia e eventos adversos;
- Associação de hidralazina e nitrato para disfunção sistólica sintomática em classe funcional II-IV (NYHA) com contraindicação à IECA ou a BRA (insuficiência renal e/ou hipercalemia), independente de raça;
- Diuréticos de alça para controle de congestão;
- Diurético tiazídico associado ao diurético de alça para controle de congestão persistente, apesar de terapêutica otimizada e incrementos na dose de diurético de alça;
Dr Antônio Vitoriano
Acad. Janine Carozo Batista de Oliveira
Acad. Geovanna Santos Nolasco Rodrigues
Referências
- SCOLARI, Fernando Luis et al. Insuficiência Cardíaca - Fisiopatologia Atual e Implicações Terapêuticas. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, v. 28, n.1, p. 33-41, 2018. Disponível em: https://socesp.org.br/revista/assets/upload/revista/9099360151526310668pdfptINSUFICI%C3%8ANCIA%20CARD%C3%8DACA%20-%20FISIOPATOLOGIA%20ATUAL%20E%20IMPLICA%C3%87%C3%95ES%20TERAP%C3%8AUTICAS_REVISTA%20SOCESP%20V28%20N1.pdf. Acesso em: 28 de fevereiro de 2025.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 111, n. 3, p. 436-539, 2018. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2018/v11103/pdf/11103021.pdf. Acesso em: 28 de fevereiro de 2025.
- KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins Patologia Básica. 10 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. E-book. p.400. ISBN 9788535289022. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595151895/epubcfi/6/64[%3Bvnd.vst.idref%3DB9788535288353000112_1]!/4/2/8/6[s0015]/2[st0020]/1:10[i%C3%AAn%2Ccia]. Acesso em: 28 de fevereiro de 2025.